Muito além da falta de condicionamento, o analfabetismo corporal revela a incapacidade de perceber, compreender e usar o corpo de forma consciente, funcional e expressiva
Prof. Dr. Mauro Guiselini, colunista Fitness Brasil
30/10/2025
O analfabetismo corporal refere-se à incapacidade ou dificuldade de perceber, compreender e utilizar o corpo de forma consciente, coordenada e expressiva. É como se o corpo fosse uma linguagem que a pessoa não aprendeu a “ler” nem a “escrever”.
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As pessoas, não portadoras de limitações físicas, decorrentes de doenças, consideradas analfabetas corporais, são aquelas que são capazes de realizar as habilidades motoras básicas, que se estruturaram no desenvolvimento motor por volta de 7 anos, período em que estão incorporadas e foram aprendidas.

Por inúmeras causas, que citamos a seguir, entre elas o sedentarismo, as capacidades biomotoras como a força, endurance, estabilidade/equilíbrio, potência, mobilidade/flexibilidade, coordenação motora e consciência corporal são pouco desenvolvidas. Na prática elas não tem o adequado desenvolvimento das capacidades biomotoras e aprendizagem/aperfeiçoamento das habilidades motoras necessárias para as adaptações específicas das demandas impostas pelo ambiente. Seriam semianalfabetas corporais?
O que é Letramento Corporal
É a capacidade de compreender, interpretar e se expressar por meio do corpo, em diferentes contextos sociais, culturais, educacionais e motores. Assim como o letramento verbal envolve ler e escrever, o letramento corporal envolve movimentar-se com consciência, comunicar-se com gestos, interpretar sinais corporais e usar o corpo como ferramenta de aprendizagem, com capacidade funcional para atender as demandas impostas pelo ambiente onde estão inseridos
Conceito ampliado
Assim como o analfabetismo tradicional impede a leitura e escrita, o analfabetismo corporal impede que o indivíduo:
- Reconheça os sinais e limites do próprio corpo.
- Execute movimentos básicos com controle e eficiência (levantar-se e se sentar, correr, saltar, equilibrar-se), sem fadiga excessiva, com desejável padrão de execução
- Expresse emoções ou ideias por meio do corpo, de forma expressiva
- Tenha consciência corporal (percepção do próprio) e controle da respiração
- Execute as atividades básicas da vida diária com autonomia e segurança decorrentes da capacidade funcional pouco desenvolvida
- Participe de atividades motoras como alternativa de lazer (jogos, brincadeiras, passeios etc.)
Causas comuns
- Sedentarismo prolongado e alto índice de sobrepeso e obesidade,
- Não reconhecimento da importância do exercício físico sistematizado para a prevenção de doenças e promoção da saúde e bem-estar,
- Educação física centrada apenas em desempenho esportivo, afastando os “menos capazes”,
- Ambientes que reprimem a expressão corporal (como escolas muito rígidas), pais desinformados, que não estimulam a pratica de exercícios e esportes,
- Envelhecimento, com comorbidades, sem a prática sistematizada de exercícios físicos para a manutenção da capacidade funcional.

Exemplos práticos
- Crianças/Adolescentes que encontram dificuldades para realizar as habilidades motoras básicas (correr, saltar, equilibrar, arremessar, entre outras) com sobrepeso e baixa capacidade funcional,
- Adultos que têm dificuldade em realizar movimentos simples como levantar e se sentar, subir escadas, entre outras atividades motoras
- Idosos que perdem a autonomia pela baixa capacidade funcional, não são capazes de se movimentar com segurança.
Por que isso importa?
O analfabetismo corporal afeta:
- Saúde física (maior risco de lesões, dores, sedentarismo).
- Saúde emocional (baixa autoestima, dificuldade de expressão).
- Inclusão social (limitações em atividades coletivas, esportes, dança etc.).
Como combater?
- Estímulo ao letramento corporal desde a infância.
- Aulas de educação física para crianças, com foco em consciência corporal expressão, coordenação motora e aprendizagem das habilidades motoras básicas, não apenas em performance.
- Programas de treinamento que avalie a capacidade funcional das pessoas “sedentárias, com baixa capacidade funcional”, orientados pro Profissionais de Educação Física preparados para atende-los e, acima de tudo, motivá-los.
Uma Realidade não muito boa!
Por analogia, o Brasil tem milhares de analfabetos funcionais que mal sabem ler e escrever e, de forma similar, milhares de analfabetos corporais (também funcionais, sob o ponto de vista neuropsicomotor). Eles têm baixo nível de desenvolvimento das capacidades funcionais (endurance aeróbia/anaeróbia, potência, força, mobilidade/estabilidade, equilíbrio estabilidade, coordenação motora global, percepção de corpo, principalmente) e dificuldades para realizar tarefas motoras básicas. Exercícios mais complexos, que requerem maiores níveis de coordenação motora, consciência corporal e mesmo de intensidades moderadas, eles não têm competência para tal. Podemos dizer então: grande parte da população brasileira não tem LETRAMENTO CORPORAL.
Tem solução?
Sim! Precisamos de Profissionais de Educação Física, com solida formação acadêmica, que, além do conhecimento dos fundamentos fisiológicos e biomecânicos, tenham uma boa Pedagogia: saibam como elaborar um ambiente de aprendizagem, com acolhimento e competência, motivando seus alunos/clientes a incorporar o exercício físico como um dos componentes do estilo de vida saudável.
As palavras mágicas que devem orientar a construção de um ambiente para a prática do exercício físico: atendimento, acolhimento, acompanhamento e conectividade… com alegria.
Prof. Dr. Mauro Guiselini é licenciado e mestre em Educação Física (USP) e doutor em Ciências do Movimento Humano (UNIMEP). Especialista pelo The Cooper Institute (Dallas) e pela American Fitness Aerobic Association, com 54 anos de atuação como professor universitário, técnico, gestor, personal trainer e docente escolar. Autor de 41 livros e 16 vídeos sobre Educação Física, saúde e treinamento. Conteúdos em YouTube (Mauro Guiselini) e Instagram (@mauro guiselini). É também diretor do Instituto Mauro Guiselini de Ensino e Pesquisa (programas personalizados e grupos, Home Care), coordenador do canal Longevidade Saudável (UPLAY TV – Faculdade Uniguaçu) e supervisor/professor do programa PLATINUM – Longevidade Saudável (Cia Athletica 111)

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