Novo consenso internacional propõe uma linguagem única para medir o quão “difícil” é o exercício, abandona o %1RM como critério isolado e introduz um sistema mais preciso e inclusivo de prescrição, válido para todas as idades e níveis de aptidão
Por Edina Camargo, colunista Fitness Brasil
13/11/2025
O impacto da atividade física e do exercício na saúde e no desempenho humano é inegável, sendo o exercício frequentemente rotulado como um potencial “medicamento milagroso” (“Wonder Drug”). Contudo, a eficácia da sua aplicação terapêutica e de melhoria de desempenho depende crucialmente da precisão da sua prescrição. Um fator que há muito tempo prejudica a pesquisa e limita a adoção de recomendações baseadas em evidências é o uso inconsistente e ambíguo da terminologia associada à intensidade do exercício.

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Visando resolver essa discrepância, o American College of Sports Medicine (ACSM) e o Exercise and Sport Science Australia (ESSA) uniram-se em um Consenso de Especialistas (2025). O objetivo central do documento é propor uma terminologia padronizada para a intensidade da atividade física e do exercício, aplicável em todas as idades, gêneros, habilidades, condições, aplicações e tipos de atividade.

Figura 1. A intensidade do exercício é considerada um determinante importante da redução da mortalidade por todas as causas.
A Importância da Coerência na Intensidade
A intensidade é um componente vital do princípio FITT(VP)* da prescrição do exercício. Ela é um determinante crucial das alterações na saúde e no fitness, além de ser fundamental para a aplicação do princípio da sobrecarga (overload principle). Sem uma intensidade mínima, o corpo não é desafiado o suficiente para gerar adaptações estruturais, fisiológicas ou de saúde. *FITT (frequência, intensidade, tempo e tipo); VP(volume e progressão).
A inconsistência terminológica — que historicamente varia entre termos como light, moderate, vigorous (leve, moderado, vigoroso) utilizados na Saúde Pública e termos como moderate, heavy, severe (moderada, pesada, severa) utilizados na Ciência do Exercício — gera incerteza para cientistas, profissionais e o público, comprometendo a prescrição ideal do exercício.

Figura 2. Inconsistências localizadas em algumas escalas.
A Proposta de Padronização ACSM/ESSA
O Consenso propõe uma estrutura terminológica padrão de cinco categorias de intensidade, aplicável tanto ao exercício cardiorrespiratório quanto ao exercício de resistência (força):
| Categoria de Intensidade | Descritor de Esforço Percebido (RPE) |
| Muito Baixa (Very Low) | Muito Fácil (Very Easy) |
| Baixa (Low) | Fácil (Easy) |
| Moderada (Moderate) | Um Pouco Difícil (Somewhat Hard) |
| Alta (High) | Difícil (Hard) |
| Muito Alta (Very High) | Muito Difícil (Very Hard) |
Os autores sugerem explicitamente que sejam evitados descritores como “leve”, “pesado”, “fraco” ou “forte” (traduzidos do inglês light, heavy, weak, strong). Essa recomendação visa garantir a consistência, impedindo que esses termos sejam interpretados como descrições de carga (load) e não de esforço percebido (Perception of Effort). Outro termo que deve ser evitado é “supramáximo”, por ser linguisticamente problemático, já que “máximo” já implica a maior intensidade possível.

Figura 3. Proposta de terminologia padrão para descrever a intensidade do exercício em atividades físicas, exercício, esportes e desempenho.
Implicações na Prescrição de Treinamento de Força
Para o treinamento de resistência (força), a principal inovação técnica reside na forma de monitoramento da intensidade:
- Rejeição do %1RM como Único Indicador: O documento não recomenda prescrever a intensidade do treinamento de força com base unicamente na porcentagem de uma repetição máxima (%1RM). O %1RM é uma medida de carga (load), e não de quão “difícil” o exercício é, ignorando fatores como velocidade de movimento, fadiga e tempo de recuperação.
- Repetições em Reserva (RIR): Em vez disso, o Consenso sugere o uso de Repetições em Reserva (RIR) — uma estimativa de quantas repetições adicionais podem ser concluídas antes da falha neuromuscular — como uma medida superior para quantificar a percepção de “quão difícil” é o exercício.
- RPE como Adjunto: A Escala de Esforço Percebido (RPE) continua sendo um método adjunto recomendado para prescrever e monitorar a intensidade no treinamento de força.
Proposta de terminologia padrão para descrever a intensidade do exercício em atividades físicas, exercício, esportes e desempenho.

Figura 4. Diagrama esquemático que destaca que a intensidade do treinamento de resistência é determinada tanto pela carga quanto pelo número de de repetições realizadas, que, em conjunto, determinam a proximidade da falha neuromuscular.
Em suma, esta declaração de consenso da ACSM e ESSA representa um passo decisivo em direção à harmonização linguística da intensidade em todos os domínios da Ciência do Esporte e Saúde Pública. A adoção desta nova estrutura de cinco categorias de intensidade e seus respectivos descritores de RPE é essencial para otimizar a prescrição de exercícios, melhorar a comunicação científica e, consequentemente, maximizar os resultados em saúde, fitness e desempenho humano.
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Link para o artigo na integra: aqui
Edina Camargo é Doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná, com linha de pesquisa em Atividade Física e Saúde. E-mail edinacamargo@gmail.com Instagram @camargoedina













































































































































































































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