De 2006 a 2023, o percentual de pessoas ativas mais do que dobrou. Mas o avançou não chegou a todos de forma igual
Por Edina Camargo, colunista da Fitness Brasil
3/7/2025
À primeira vista, a notícia é motivo de comemoração: o número de brasileiros que praticam atividade física no tempo livre deu um salto impressionante nas últimas duas décadas. De 2006 a 2023, o percentual de pessoas ativas mais do que dobrou, passando de 16% para 42,5%. Um avanço notável que nos enche de otimismo. Mas será que este avanço chegou a todos de forma igual? Uma análise mais profunda revela que, por trás da boa notícia, persistem duas fraturas sociais que impedem o Brasil de se tornar um país verdadeiramente saudável e equitativo.
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Dados do Vigitel
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O Persistente Abismo de Gênero
Apesar do crescimento geral da atividade física para ambos os sexos, a desigualdade entre homens e mulheres é uma realidade preocupante. Enquanto o número de homens ativos subiu de 19,5% para 48%, a participação feminina, apesar de ter crescido (de 12,9% para 37,7%), não conseguiu fechar a lacuna. A diferença entre os dois grupos, que era de 6,6% em 2006, chegou a 13,3% em 2015 e, mesmo com uma leve queda, se manteve alta em 10,3% em 2023. Esse abismo sugere que, enquanto alguns grupos se beneficiam do progresso, muitas mulheres continuam enfrentando barreiras invisíveis. Questões como a dupla jornada de trabalho, responsabilidades familiares, falta de segurança nas ruas e a ausência de espaços de prática seguros podem estar por trás desses números, impedindo que a atividade física se torne uma prioridade em suas vidas.

A Desigualdade Regional: O Brasil do ‘Norte’ e do ‘Sul’
A fratura não é apenas de gênero, mas também geográfica. O estudo aponta que as oportunidades para se exercitar não chegam a todos os cantos do país da mesma forma, criando uma profunda iniquidade regional. A disparidade entre as grandes regiões do Brasil, que havia se estabilizado em 2006, voltou a crescer de forma alarmante. Paralelamente, a desigualdade entre as cidades de uma mesma região continua sendo um desafio. A diferença entre o percentual de pessoas ativas em cidades como Vitória e São Paulo, por exemplo, é um sinal claro de que a infraestrutura e as políticas de incentivo não estão distribuídas de forma igualitária.
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Em Direção à Equidade: Um Objetivo Incompleto
O aumento da atividade física é um passo importante na busca por um Brasil mais saudável. No entanto, o verdadeiro desafio não é apenas fazer as pessoas se moverem, mas garantir que todos tenham as mesmas oportunidades para fazê-lo. Para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS 5) da ONU, que visa a igualdade de gênero, e para promover a saúde de forma genuína, é preciso ir além da média. As políticas públicas precisam se tornar um instrumento para reduzir as desigualdades de gênero e regionais, endereçando as barreiras sociais que mantêm tantas pessoas paradas. A menos que a equidade se torne o nosso norte, o avanço na saúde permanecerá uma promessa incompleta. Afinal, um país só é verdadeiramente saudável quando todos os seus cidadãos podem se beneficiar da mesma forma.

Prof.ª Dra. Edina Camargo é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com linha de pesquisa em Atividade Física e Saúde. E-mail: edinacamargo@gmail.com | Instagram: @camargoedina | CREF 08347-G/PR
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