Para promover longevidade e bem-estar reais, é preciso enxergar o aluno de forma integral — considerando também hábitos, propósito e qualidade de vida
Prof. Me. Luis Carlos de Oliveira, colunista Fitness Brasil
23/7/2025
Olá amigos, inicialmente quero deixar claro que de forma alguma neste ensaio estou propondo aqui que os Profissionais de Educação Física que atuam cometam invasão de nenhuma outra área de atuação profissional como a medicina, a nutrição, a psicologia ou a terapia ocupacional ou qualquer outra área profissional correlata. Contudo não vejo como na atualidade uma prática profissional eficaz dos Profissionais de Educação Física, não leve em consideração a importância de outras áreas como interface para complementação das ações próprias como profissionais também da área de saúde na busca dos melhores resultados junto aos seus clientes, sobretudo se considerarmos os seres humanos indivíduos complexos em sua própria existência.
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Você deve estar se perguntando o porquê deste preambulo, mas já vou explicar. Você saberia dizer qual é atualmente a média de expectativa de vida mundial? De acordo com a Divisão de População das Nações Unidas e dados do Worldometer, a expectativa média de vida global em 2025 é de 73,5 anos: um pouco mais para Mulheres: 76,2 anos do que para os Homens: 70,9 anos, países com maior expectativa de vida, Hong Kong: 85,8 anos, Japão: 85 anos, Coreia do Sul: 84,5 anos e na Suíça e Austrália: 84,2 anos.

A expectativa de vida no Brasil (2025) segundo as projeções mais recentes do IBGE ao nascer no Brasil em 2025 é de 76,8 anos. Esse número representa um crescimento contínuo após os impactos da pandemia, com os seguintes destaques, Homens: 73,5 anos, Mulheres: 80,1 anos, as regiões com maior longevidade: Sul (77,5 anos) e Sudeste (77,1 anos), a projeção para 2070 é de 83,9 anos. Ou seja, estamos envelhecendo, o mundo está envelhecendo. Contudo esse aumento na expectativa de vida precisa estar acompanhado não apenas de mais anos a nossa vida, mas principalmente mais vida a cada ano a mais vivido.
Zonas Azuis
Segundo Dan Buettner, cientista e pesquisador sobre o fenômeno da longevidade, que estudou a fundo regiões do mundo conhecidas por uma sua maior quantidade de pessoas centenárias, e denominou estas localidades de “zonas azuis” e nestas localidades encontrou alguns pontos em comum nos quesitos: alimentação, atividade física, conexões sociais e espirituais. Pontos este que segundo suas hipóteses podem ser os motivos da longevidade dos habitantes de: Lomo Linda na Califórnia (EUA), Nucoya na Costa Rica, Sardenha na Itália, IKaria na Grécia e Okinawa no Japão. Estas cinco localidades são os locais que concentram a maior contingente de centenários, (pessoas que ultrapassaram os cem anos de idade) em todo o mundo que se tem registros oficiais.
O mais interessante do trabalho de Buettner, é que ele não se limitou em estabelecer os quantitativos de longevidade destas localidades, ele foi além e buscou identificar oque de fato poderia estar provocando este desvio de curva de longevidade das pessoas destas cinco cidades. Em seus estudos ele identificou 9 pontos, ou aspectos de suas rotinas de vida que eram comuns a todas as populações e que muito provavelmente estariam contribuindo para o desfecho de maior longevidade de suas populações.
Um estilo de vida mais fisicamente ativo, uma maior quantidade de atividade física inserida no cotidiano destas pessoas foi um destes pontos, Mexiam-se naturalmente: as pessoas nas “zonas azuis” não correm maratonas nem puxam ferro, mas caminham em montanhas íngremes para chegar ao trabalho, cuidam de suas próprias hortas ou têm como ideal de diversão uma agradável caminhada na natureza. Obviamente que isto transferido para a rotina caótica das grandes metrópoles urbanas, pode ser traduzido por um maior engajamento em práticas físicas sistematizada, ou até a prática mesmos de exercícios físicos bem prescritos. Acredito que para os leitores desta coluna, isto não é nenhuma novidade, por isto chamo a atenção de vocês para os outros oito pontos que Buetnner destaca em seus estudos. Por isto iniciei este ensaio dizendo que nossa relação com nossos clientes precisa ir além da prescrição de exercícios.
A vida depois dos 100
Além de um estilo de vida fisicamente ativo, Buetnner também aponta outros 8 aspectos que em seus estudos foram evidenciados como importantes na longevidade destas populações centenárias:
Beber vinho (com moderação): o álcool em pequenas quantidades pode reduzir o estresse e melhorar a saúde do coração. Mas, acima de tudo, o vinho (e o saquê, no caso dos okinawanos) faz parte de uma cultura e de rituais sociais.
Encontre um propósito de vida: chamado pelos okinawanos de “ikigai”, o propósito é a razão pela qual se levanta da cama, e os habitantes das “zonas azuis” parecem ter uma noção muito clara dos seus – seja o trabalho, a família ou até mesmo a tarde de conversa boa com os amigos.
Desacelere e faça coisas que nutram a alma: pode ser um afazer religioso ou uma caminhada com os amigos. Níveis mais baixos de estresse significam menos inflamações crônicas.
Encontre uma comunidade espiritual: uma coisa comum à maioria dos centenários entrevistados é a fé. Pessoas que participam de rituais religiosos têm menos chances de se engajar em comportamentos prejudiciais, tendem a ser mais ativas, menos estressadas e a ter um autoconhecimento maior.

Prioridade à família: quando se prioriza a família, geralmente há um retorno em forma de cuidado e carinho. A maioria dos centenários das zonas azuis viviam com gerações mais novas da família
Cerque-se das pessoas certas: conexões sociais profundas são intimamente ligadas à longevidade. Mais ainda: se suas conexões seguem hábitos saudáveis, suas chances de segui-los aumenta bastante.
Pratique a restrição calórica consciente: parar de comer antes de estar 100% saciado pode trazer grandes benefícios ao organismo. Isso porque o cérebro demora cerca de 20 minutos para “entender” a saciedade.
Tenha uma alimentação baseada em produtos frescos e vegetais: isso não quer dizer uma dieta vegetariana – todas as “zonas azuis” incluem a carne e produtos animais na cultura alimentar, mas de forma secundária. O foco são verduras, frutas, legumes e castanhas, sempre frescas e preparadas em casa.
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Ainda que o foco de nosso trabalho seja o exercício físico, certamente teremos melhores resultados se concomitantemente com a prescrição, monitoramento e avaliação dos exercícios também chamarmos a atenção de nossos clientes a estes outros aspectos da vida, de forma a complementarmos nossos cuidados e por consequência maximizarmos os efeitos de nossa atuação.
Bem como podemos notar a longevidade é multifatorial, dependente de aspectos biológicos, comportamentais e ambientais, evidentemente que alguns destes fatores são modificáveis, certamente em outros temos pouca ou até nenhuma capacidade de modificação, mas se de alguma forma conseguirmos atuar naqueles que são mais facilmente modificáveis, já provocaremos alguma alteração no desfecho final na vida daqueles que confiam a nós a sua vida e sua condição de saúde.
Para saber mais
Para finalizar ofereço aos interessados no assunto duas sugestões de leitura e um documentário, para que possam se aprofundar no tema.
Livro principal de Dan Buettner
BUETTNER, Dan. The Blue Zones: Lessons for Living Longer From the People Who’ve Lived the Longest. Washington, D.C.: National Geographic, 2008. Link para o livro: Amazon – The Blue Zones
Artigo sobre as Zonas Azuis na National Geographic
Referência ABNT: NATIONAL GEOGRAPHIC. As cinco “Zonas Azuis” onde vivem as pessoas mais saudáveis do mundo. National Geographic Portugal, 25 set. 2023. Disponível em: https://www.nationalgeographic.pt/ciencia/cinco-zonas-azuis-pessoas-mais-saudaveis-mundo_4251. Acesso em: 22 jul. 2025.
Documentário na Netflix
BUETTNER, Dan. Viver até os 100: Os segredos das Zonas Azuis. Direção de Clay Jeter. Netflix, 2023. Série documental. Link oficial: Netflix – Zonas Azuis
Prof. Me. Luis Carlos de Oliveira é formado em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física de São Caetano do Sul; Mestre em Educação Física; Doutorando em Educação Física e Saúde, Membro Diretor do CELAFISCS; Instrutor de Pesquisas em Ciências do Esporte; Coordenador do Projeto Internacional ISCOLE – Obesidade Infantil Ambiente e Estilo de Vida; Coordenador dos Cursos de Pós–Graduação da USCS/CELAFISCS; Professor da TREVISAN – Escola de Negócios; Assessor técnico-científico do Programa Agita São Paulo – Secretaria de Estado da Saúde; Membro da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Ciências do Esporte
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