Falta de motivação, tempo, apoio social e estrutura são os maiores obstáculos à prática de atividade física no país, segundo revisão sistemática
Por Edina Camargo, colunista da Fitness Brasil
3/7/2025
Um dos fatores chave para o sucesso de programas e intervenções em promoção de atividade física (AF), seja em níveis individuais ou comunitários, está em identificar os aspectos que limitam a participação e manutenção dos indivíduos nesses programas e intervenções. Analisar criticamente as barreiras para AF poder ser primordial para desenvolver abordagens adequadas do ponto de vista sociocultural e ambiental para promover AF. Evidências de revisões sistemáticas apontam que existe uma relação inversa entre maior percepção de barreiras para AF e os níveis de AF. Essas evidências também indicam que a percepção de barreiras para AF é consistentemente associada com o comportamento ativo em diferentes populações.
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A percepção de barreiras para AF pode variar entre grupos etários e contexto local. Quando investigado as barreiras para a prática de atividade física em adolescentes, as mais reportadas foram a falta de companhia, falta de suporte dos amigos e/ou da família e falta de motivação. Em adultos falta de tempo, falta de motivação e recursos financeiros podem ser importantes barreiras para AF. Enquanto isso para os idosos, falta de motivação, limitações físicas e doenças pré-existente podem impossibilitá-lo de ser ativo fisicamente. Além disso, a influência da cultura local e as normas sociais podem influenciar nessa percepção. No Brasil, devido sua extensão, diversidade cultural e econômica pode-se esperar importantes diferenças nestas percepções, o que pode contribuir para o entendimento e elaboração de estratégias que minimizem as barreiras para a prática de AF.

Na revisão sistemática de Rech et al (2018) sobre BARREIRAS PERCEBIDAS PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NO LAZER DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte, é possível entender um pouco mais sobre as barreiras percebidas para a prática de atividade física pela população brasileira. O estudo apresenta as barreiras estratificada por gênero e grupos etários. Vamos conhecer:
Para adolescentes, foram encontrado 23 diferentes tipos de barreiras para AF, sendo que o maior número de relatos foi nas dimensões psicológicos, cognitivo, emocional (8986 relatos; 39,1%) e cultural social (6474 relatos; 28,1%). A proporção de barreiras relacionadas à falta de motivação (falta de motivação e preguiça), falta de apoio social (falta de companhia e falta de apoio de família e amigos) e fatores climáticos e de acesso (clima inadequado e falta de locais e instalações) foi maior em adolescentes. Curiosamente, meninas relataram com mais frequência barreiras relacionadas à falta de motivação (não gostar de se exercitar, falta de motivação, preguiça e preferência por outras atividades de lazer) do que os meninos.
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Para adultos, 15 barreiras foram percebidas, sendo maior parte relacionada com os aspectos psicológicos, cognitivo, emocional (28.202 relatos; 70,1%) e demográficos biológicos (6.702 relatos; 14,7%). Em adultos, as mulheres relataram a falta de motivação, a falta de companhia e a falta de recursos financeiros como as principais barreiras, enquanto os homens relataram com mais frequência a falta de tempo e os aspectos sociais e estruturais (falta de segurança, falta de locais e equipamentos para AF).
Para idosos, um total de 18 barreiras foram percebidas, sendo, psicológicos, cognitivo, emocional (1.743 relatos; 45,7%), demográficos biológicos (1.078 relatos; 28,3%), ambiente físico (721 relatos; 18,2%), sociocultural (270 relatos; 7.8%). Entre os idosos, a falta de motivação como principal barreira para AF nos homens chama a atenção. Em mulheres idosas, as barreiras estavam relacionadas a limitações físicas, presença de doenças, falta de companhia e falta de segurança.

Em conclusão, as barreiras intrapessoais continuam sendo as mais frequentemente relatadas pela população brasileira e incluem a falta de companhia, a falta de apoio social de familiares e amigos, o clima inadequado e o acesso limitado a locais para AF em adolescentes; a falta de motivação e a falta de tempo em adultos; e a falta de motivação e diagnóstico de doenças ou limitações físicas em idosos. Programas de promoção da atividade física devem levar em consideração as diferentes barreiras à AF, uma vez que se constatou que elas são específicas para cada faixa etária. O profissional de Educação Física tem papel importante na redução de barreiras para a prática de atividade física da população brasileira, conhecer sobre o tema é o primeiro caminho.
Eu, Professora Edina Maria de Camargo, tive o prazer de participar da escrita desta revisão sistemática, junto com os professores, listados abaixo, e recomendo fortemente a leitura do artigo na íntegra: • Rech et al. PERCEIVED BARRIERS TO LEISURE-TIME PHYSICAL ACTIVITY IN THE BRAZILIAN POPULATION.Rev Bras Med Esporte 24 (4)•Jul-Aug 2018 • https://doi.org/10.1590/1517-869220182404175052
Autores: Cassiano Ricardo Rech; Edina Maria de Camargo; Pablo Antonio Bertasso de Araujo; Mathias Roberto Loch; Rodrigo Siqueira Reis
Prof.ª Dra. Edina Camargo é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com linha de pesquisa em Atividade Física e Saúde. E-mail: edinacamargo@gmail.com | Instagram: @camargoedina | CREF 08347-G/PR
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