Meta-análise no JMIR (set/2025) mostra efeito curto: melhora até 6 meses, reganho depois e 75% de desistência — personalização + apoio profissional são decisivos
Prof. Dr. Aylton Figueira Junior, colunista Fitness Brasil
23/10/2025
A obesidade permanece entre os maiores desafios globais de saúde, impulsionando a busca por soluções tecnológicas acessíveis, como os aplicativos de emagrecimento. Esses apps prometem monitorar alimentação, treinos e comportamento, atuando como um “treinador de bolso”. Mas seus efeitos são reais e sustentáveis?
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Uma meta-análise publicada em setembro de 2025 no Journal of Medical Internet Research, conduzida por Pujia et al., trouxe evidências inéditas ao avaliar exclusivamente aplicativos móveis, sem apoio de dispositivos como relógios inteligentes ou balanças conectadas. Foram analisados 11 ensaios clínicos randomizados, envolvendo 1.717 adultos com sobrepeso ou obesidade (IMC ≥ 25 kg/m²), em intervenções que variaram de 60 dias a 12 meses.

Nos primeiros seis meses, os resultados foram positivos: houve redução significativa do peso corporal (SMD = –0.33; p < 0.0001), do IMC (MD = –0.76; p = 0.02) e da gordura corporal, especialmente entre 3 e 6 meses. No entanto, não houve melhora consistente da circunferência abdominal, e entre 9 e 12 meses observou-se tendência de reganho de peso. O dado mais crítico: cerca de 75% dos usuários abandonam os apps antes de seis meses, enfraquecendo o efeito das intervenções.
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A principal causa desse declínio é a falta de personalização e suporte contínuo. Muitos aplicativos oferecem orientações genéricas, ignorando fatores essenciais para a mudança comportamental, como estresse, motivação, contexto social e cultura alimentar. Assim, o que começa com engajamento inicial evolui para fadiga digital.
Os resultados demonstraram que os aplicativos têm poder clínico em:
| – Redução de peso significativa até o 6º mês – Queda no IMC e no percentual de gordura corporal – Ausência de impacto na circunferência abdominal – Perda total de efeito após 9 meses, com tendência ao reganho |
Efeito real, mas curto: por que os apps falham a longo prazo?
Nos primeiros meses, os apps funcionam como gatilhos comportamentais. Ao registrar refeições e treinos, o usuário entra em estado de vigilância consciente — o que favorece a restrição calórica. Entretanto, esse efeito desaparece com o tempo. Cerca de 75% dos usuários abandonam o aplicativo antes de seis meses, interrompendo o ciclo de autorregulação.
Os autores apontam como principais causas do abandono:
| – Falta de personalização (planos genéricos e repetitivos) – Ausência de suporte emocional e motivacional – Sobrecarga cognitiva (registro manual cansa) – Desalinhamento cultural e social |
Em termos clínicos e comportamentais, o que começa como ferramenta vira obrigação — e o engajamento cai drasticamente.
A próxima fronteira: Inteligência Artificial e gamificação: O futuro dos apps não está em novas funções, mas em inteligência adaptativa. Isso envolve:
1- Interpretação de dados complexos (sono, humor, biomarcadores)
2️- IA para ajustar planos em tempo real
3️- Gamificação para manter engajamento
4️- Integração de modelos de motivação e hábito

Tecnologia não substitui vínculo humano. O estudo é categórico: nenhum recurso digital sustenta adesão prolongada sem o papel do profissional de Educação Física, mediando informação e comportamento.
Conclusão
Apps iniciam a jornada, mas não a completam. Podem incentivar, mas não transformam sozinhos. Sem personalização e acompanhamento humano, a promessa digital se dissolve — e o ciclo da obesidade recomeça.
Referência
Pujia, C., Ferro, Y., Mazza, E., Maurotti, S., Montalcini, T., & Pujia, A. (2025). The Role of Mobile Apps in Obesity Management: Systematic Review and Meta-Analysis. Journal of Medical Internet Research
Aylton Figueira Junior é formado em Educação Física, mestre e doutor em Adaptação Humana, saúde e atividade física pela UNICAMP, docente do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu. Membro do American College of Sports Medicine e Japan Society of Exercise Fisiology. Autor de oito livros, 24 capítulos e mais de 400 artigos científicos. Criador da certificação PROFISSIONAL DO FUTURO. Sócio proprietário da Clínica Ostheos-Equilibrio Físico. Instagram @ayltonfigueira.dr













































































































































































































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