O fenômeno dos amadores que se lançam em desafios extremos sem a devida preparação física, colocando a saúde em risco em nome da superação e da imagem nas redes
Por Marcelo Affonso, colunista Fitness Brasil
27/6/2025
Tem sido quase uma regra, chutar a bola para frente e correr para alcançá-las por alguns “atletas” amadores que se inscrevem em eventos de longa distância que possuem grande repercussão na mídia e nas redes sociais como corrida, triathlon, canoagem, natação, etc.
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Esses eventos possuem um volume competitivo normalmente elevado ou muitas vezes extremos, mesmo para atletas experimentados, imagina para quem apresenta um nível de aptidão física insuficiente e muitas vezes precisando sair do zero para algo muito acima do que esse organismo hipocinético está acostumado a ser submetido.

Questionamos essas escolhas, não só do ponto de vista sociológico e comportamental, não somente devido ao tamanho desses desafios, mas principalmente pelo absoluto risco que esses desafios podem promover.
O que tem na verdade acontecido é a total ausência de responsabilidade com a sua própria saúde. Alcançar um nível competitivo mínimo, requer um período suficiente, uma maturação neuromuscular, articular, imunológica endócrina e psico-morfo-funcional.
Atingir uma Carga Fisiológica de Treino de maneira vertiginosa, quase exponencial, sem passar pelas etapas de uma Preparação Desportiva, é colocar em risco todos os sistemas corporais de uma só vez, sem seguir um passo a passo progressivo, obedecendo os clássicos princípios científicos do treino do esporte, seguindo as leis biológicas e os aspectos pedagógicos.
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Já temos algumas respostas de ordem sociológica e comportamental dos porquês dessas pessoas tomarem esse tipo de decisão e se inscrever nesses desafios.
Já temos também algumas respostas para os ajustes agudos, como por exemplo dores articulares, lesões musculares, e até mesmo uma rabdomiólise. Mas acredito que não temos ainda todas as respostas das consequências longitudinais das respostas crônicas que os sistemas corporais sofrem com esse nível de solicitação tão acima da média.
E profissionais de Educação Física, qual a conduta devem adotar?
Tenho certeza que a maioria desses treinadores, discordam dessa escolha apressada e acima de tudo com esse viés midiático de ser fotografado, filmado e tornar esse conteúdo “instagramável”, sendo usado em alguns momentos como portifólio profissional, trazendo um simbolismo de resiliência e de força de vontade, quando ele se torna um “FINISHER”, nos eventos de longa duração.
Caso essas pessoas escolham competir sem o acompanhamento de um profissional especializado, o risco vai aumentar ainda mais, com maiores riscos para a saúde dele…

E uma vez se o profissional for procurado, ele deve aceitar? E caso ele não aceite, você acredita que o atleta vai deixar de participar do evento?
Penso eu, que de forma alguma isso irá acontecer, e o que talvez seja ainda muito pior, ele fará do jeito dele, pesquisando treinos na internet, copiando treinos dos atletas de sucesso, com uma carga bem superior ao que ele é capaz de suportar, sem ajustes preparatórios para chegar na fase das cargas específicas da competição.
Vivemos em um novo momento, onde a paciência não faz parte do vocabulário dessas pessoas.
Precisamos como profissionais do esporte e da saúde, saber conviver com essa nova realidade.
Marcelo Affonso é fisiologista do exercício, preparador físico, professor da Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e CEO da plataforma Periodization Online.
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