Treinamento de força seguro e orientado pode combater a dinapenia infantil, melhorar força, coordenação e saúde óssea, segundo recomendações do ACSM para crianças pré-púberes
Prof. Me. Luis Carlos de Oliveira, colunista Fitness Brasil
2/10/2025
As pesquisas mais recentes sobre musculação infantil têm se concentrado em combater o sedentarismo precoce e promover o desenvolvimento saudável por meio do treinamento de força. Um tema que tem sido amplamente discutido é a Dinapenia Infantil. Hoje já podemos encontrar alguns estudos tanto no Brasil como no exterior que identificaram a dinapenia infantil, condição físico-morfológica que é caracterizada pela perda de força muscular antes da puberdade tendo sido observado como um fenômeno crescente após a pandemia, devido ao aumento do tempo em frente às telas e à redução da atividade física.
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Mediante a este quadro preocupante, a musculação orientada tem sido proposta como estratégia preventiva e terapêutica, com destaque para o exercício excêntrico, que promove força, flexibilidade e interferem inclusive na densidade óssea.

Benefícios Comprovados do Treinamento de Força
Pesquisas publicadas pela Mayo Clinic e na revista Sports Medicine mostram que o treinamento de resistência em crianças melhora:
- Desempenho motor e esportivo
- Densidade mineral óssea
- Cognição e desempenho escolar
- Autoestima e comportamento em sala de aula
A musculação pode ser iniciada com sobrecarga leve a partir dos 6–7 anos, com foco em técnica e lúdico. A partir dos 12 anos, é possível introduzir cargas maiores, sempre com supervisão profissional e atenção à postura.
Essas descobertas reforçam que o verdadeiro risco não está na musculação, mas no sedentarismo infantil. A ciência tem mostrado que, com orientação adequada, o treino de força é seguro e altamente benéfico para crianças.
A prática de musculação em crianças pré-púberes tem sido alvo de debates e pesquisas nas últimas décadas. Tradicionalmente vista com cautela, hoje é reconhecida como uma atividade segura e benéfica quando realizada sob supervisão adequada e com protocolos específicos. O American College of Sports Medicine (ACSM) tem se destacado ao estabelecer diretrizes claras para essa faixa etária, promovendo o desenvolvimento saudável e prevenindo riscos.
Importância da Avaliação do Estágio de Maturação
A musculação para crianças pré-púberes deve considerar os estágios de maturação, como os critérios de Tanner propostos por Malina, que classificam o desenvolvimento em fases distintas. A determinação do estágio pubertário pode ser feita por meio de indicadores como idade óssea, dental, sexual, somática, mental, neural e fisiológica (MALINA; BOUCHARD, 2002). É importante ressaltar que a idade cronológica não tem se mostrado um indicador eficiente para a determinação do estágio de maturação biológica de crianças e adolescentes. A avaliação da maturação sexual é essencial para garantir que o treinamento seja adequado ao nível de desenvolvimento da criança.

Recomendações do ACSM
Segundo o ACSM (2021), a prática de exercícios físicos é essencial para o desenvolvimento saudável de crianças pré-púberes. As recomendações incluem:
- Treinamento de força com cargas leves a moderadas (40–70% de 1RM), com 8 a 15 repetições por série, 2 a 3 séries por exercício, e frequência de 2 a 3 vezes por semana.
- Ênfase na técnica e progressão gradual, com exercícios multiarticulares e resistência adequada à idade.
- Supervisão constante por profissionais qualificados.
- Inclusão de atividades aeróbicas (corrida, natação, bicicleta), exercícios de flexibilidade (alongamentos dinâmicos e estáticos) e coordenação motora (jogos e brincadeiras).
Importante ressaltar que as recomendações do ACSM de exercícios de treinamento de força para crianças parte de um pressuposto genérico, contudo toda a prescrição de exercícios sobretudo para crianças deve respeitar e considerar as particularidades, especificidades e características individuais de cada criança, oque obviamente deve ser avaliado em uma ampla bateria de testes e avaliações morfofuncionais prévias.
As práticas de exercícios de força para crianças pré-púberes, podem promovem ganhos significativos de força muscular, atribuídos principalmente a adaptações neuromusculares, como maior recrutamento de unidades motoras, já que não há hipertrofia relevante nessa faixa etária (GARCÍA-HERMOSO et al., 2023).
Além do aumento da força, o treinamento de resistência contribui para o desenvolvimento da densidade mineral óssea, auxiliando na prevenção de osteoporose e fortalecendo a estrutura óssea durante o crescimento (SBU, 2021). A prática regular também favorece o desempenho esportivo, o desenvolvimento funcional e a qualidade de vida.
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O ACSM também destaca contraindicações importantes:
Existem algumas condições que devem ser observadas e consideradas com contraindicações para a prescrição de exercícios de musculação para crianças pré-púberes
- Hipertensão não controlada
- Doenças cardíacas não tratadas
- Fraturas ou lesões musculoesqueléticas agudas
- Histórico de luxações articulares
- Diabetes tipo 1 não controlada
- Síndromes de fragilidade óssea (ex.: osteogênese imperfeita)
Nesses casos, é imprescindível avaliação médica prévia e acompanhamento contínuo, com ajustes individualizados no programa de treinamento.
A musculação para crianças deve deixar de ser um tabu
Portanto os estudos têm demonstrado que o problema não está na realização de exercícios de força para crianças per si, e sim na maneira como estes exercícios são administrados, o nível de proficiência no assunto dos profissionais que estão responsáveis pelo trabalho. A musculação para crianças pré-púberes, quando realizada com responsabilidade e embasamento científico, oferece benefícios significativos para o desenvolvimento físico e funcional. A supervisão profissional, a prescrição segura e o respeito às contraindicações são pilares fundamentais para garantir a eficácia e a segurança da prática. O compromisso dos profissionais da saúde com essa população deve ser pautado pelo conhecimento técnico e pela ética, promovendo educação, saúde e qualidade de vida.
Referências
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. ACSM’s Guidelines for Exercise Testing and Prescription. 12. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2021.
BIASSIO, L.; MATSUDO, S. M. M.; MATSUDO, V. K. R. Impacto da menarca nas variáveis antropométricas e neuromotoras da aptidão física, utilizando uma abordagem longitudinal. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 12, n. 2, p. 97–101, 2004. GARCÍA-HERMOSO, A. et al. Influence of strength training variables
Prof. Me. Luis Carlos de Oliveira é formado em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física de São Caetano do Sul; Mestre em Educação Física; Doutorando em Educação Física e Saúde, Membro Diretor do CELAFISCS; Instrutor de Pesquisas em Ciências do Esporte; Coordenador do Projeto Internacional ISCOLE – Obesidade Infantil Ambiente e Estilo de Vida; Coordenador dos Cursos de Pós–Graduação da USCS/CELAFISCS; Professor da TREVISAN – Escola de Negócios; Assessor técnico-científico do Programa Agita São Paulo – Secretaria de Estado da Saúde; Membro da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Ciências do Esporte
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