Apresentamos mais um grande nome do segmento, que se mantém há 40 anos no setor com espírito empreendedor e olhar humano
Yara Achôa, Fitness Brasil
1/8/2025
A cada semana, “Quem é quem – os líderes do mercado fitness” destaca executivos que vêm moldando o presente e o futuro do setor com propósito, visão estratégica e entrega real. O entrevistado desta edição é Paulo Akiau, presidente da ABC EVO, referência em tecnologia voltada à gestão de academias, e presidente da recém-criada AIFB – Associação da Indústria do Fitness Brasileiro. Com uma trajetória de quatro décadas, ele coleciona marcos históricos e segue sendo uma das vozes mais influentes do setor, combinando espírito empreendedor com um olhar humano sobre liderança e legado.

Qual é o principal foco da ABC EVO no setor fitness e de bem-estar?
Muita gente vê a ABC EVO apenas como uma empresa de tecnologia. Mas, na verdade, somos uma empresa centrada em pessoas, com um propósito claro: transformar vidas por meio do exercício e de um estilo de vida saudável. Mais do que entregar tecnologia, somos um parceiro estratégico para operadores de academias, estúdios e afins. Nossa missão é impulsionar o crescimento de nossos clientes — sejam eles pequenos, médios ou grandes.
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Como começou sua trajetória no setor? O que o motivou a entrar nesse mercado?
Em agosto de 2025 completo 40 anos no fitness. Tudo começou quando entrei na Escola de Educação Física da USP. Lá, meu primeiro grande mestre, Mauro Guiselini, me convidou para um estágio na Runner — a primeira grande rede de academias do Brasil. Era agosto de 1985.
Quais foram os maiores desafios da sua carreira — e como os superou?
O primeiro foi em 1991: deixar o cargo de diretor da Runner, algo muito cobiçado na época, para seguir carreira solo. Isso me levou a ministrar mais de 1.200 workshops em 34 países. O segundo, em 1997, foi abandonar essa carreira para fundar a Body Systems e trazer a Les Mills para o Brasil e América Latina. O terceiro, mais recente, foi liderar a transição da W12 (agora ABC EVO) após sua incorporação ao grupo global ABC Fitness, em 2018. De 30 clientes, chegamos hoje a mais de 9.000 operadores.
Teve algum momento especialmente difícil? Como você lidou com ele?
O momento crítico da minha vida de empreendedor foi no aniversário de um ano da Body Systems, em 1998, quando meus sócios naquela época entenderam que o negócio era pequeno para 4 sócios e me propuseram comprar as cotas deles. Na época eu não tinha recursos para essa transação, tive que fazer uma dívida grande e pivotar a empresa para produzir resultados rápidos, considerando que a proposta de valor do negócio era inédita e ousada, o que me forçava a inventar todas as estratégias sem nenhuma referência existente de algum negócio similar.
Conte uma situação em que precisou se adaptar a uma grande mudança.
Após a entrada da W12 (ABC EVO) para o grupo ABC Fitness em 2019, considerando praticamente uma vida toda no empreendedorismo e dono do meu próprio nariz, fui convidado a assumir uma posição de acionista executivo, passando a usar parte importante do meu tempo preparando reports e prestação de contas ao Board da ABC Fitness, nomeado pelo fundo de private equity controlador da ABC, o Thoma Bravo. A agenda de executivo dentro de uma organização multinacional é bem diferente da agenda do empreendedor/fundador de uma startup. Felizmente eu tive liberdade e autonomia ampla para continuar liderando o negócio apoiado em nossa cultura, que é forte e única, tomando decisões estratégicas e escolhendo as melhores pessoas para conduzir a operação ao meu lado.
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Qual foi o momento mais marcante da sua trajetória profissional?
Eu considero que o momento mais marcante é sempre o atual. O presente é onde você tem a oportunidade de fazer escolhas e tomar decisões que transformarão o mundo à sua volta, e ficarão gravadas num legado que nunca será mudado, pois será parte do passado. Esse é portanto, sempre, o momento mais importante de nossas vidas, o aqui e agora.
Quais inovações você acredita que vão moldar o futuro do setor?
Assim com aconteceu com a revolução industrial, a revolução das telecomunicações, a revolução da internet, hoje estamos vivendo a revolução da inteligência artificial. Podemos resistir, podemos nos atrasar, podemos criticar e até entrar em pânico, mas esse é um caminho sem volta, que definirá quem estará dentro ou fora do jogo. Será fundamental entender que a inteligência artificial não chegou para simplesmente substituir pessoas, mas sim nos permitir, através da otimização de nosso tempo, cuidarmos mais uns dos outros como seres humanos. E eu entendo que mais uma vez precisaremos ser pioneiros, inovadores e criadores de tendências, portanto nossa responsabilidade é enorme para a construção do futuro.
Como você vê o papel do Brasil no cenário global do fitness?
Temos uma posição privilegiada. Somos um mercado em expansão, com grande população e economia, além de uma criatividade e capacidade de adaptação únicas. O Brasil é — e continuará sendo — protagonista global.
Qual é a sua definição de sucesso?
Sucesso é o encontro da preparação com a oportunidade, guiados por um propósito transformador. Quando esses três fatores se alinham, nasce a “tempestade perfeita”. Mas, claro, um pouco de sorte também ajuda.
Quais são seus valores inegociáveis?
Lealdade, generosidade e integridade. Me acompanham há 40 anos no fitness — e seguirão comigo até o fim.
Que conselho daria para quem quer crescer no setor?
Que não se percam em planejamento estratégico onde os resultados financeiros são tratados como objetivo principal. O segredo das maiores e mais admiradas empresas do mundo é a CULTURA. Não há estratégia, pois mais brilhante que seja, que pare de pé apoiada numa cultura frágil. E a cultura se constrói colocando as pessoas em primeiro lugar e com a clareza do propósito que nos une, tudo isso vigiado de perto por valores virtuosos e comuns a essas pessoas. Se todas as decisões forem tomadas mirando o crescimento e desenvolvimento das pessoas, sejam elas membros do time ou clientes, os grandes resultados (inclusive os financeiros) serão consequência inevitável. E o guardião de tudo isso é o líder, aquele cujo papel principal é escolher as pessoas certas para cuidar da missão.
Como equilibrar vida pessoal e profissional em um setor tão dinâmico?
O trabalho, principalmente quando está apoiado num propósito e é realizado com amor e prazer, pode se tornar uma armadilha para a agenda pessoal. Portanto a minha fórmula (que nem sempre fui capaz de usar da forma correta) é colocar primeiro na agenda as relações pessoais fundamentais, especialmente a família, e somente depois organizar o tempo para as tarefas do trabalho. Se fizermos o contrário, quase que sempre os incêndios do dia-a-dia nos consumirão e nada restará para o resto de nosso holograma humano (família, amigos, lazer, exercício, descanso, espiritualidade).
Quais são seus próximos projetos e desafios?
Dentro do mercado fitness pretendo continuar conduzindo a ABC EVO para uma penetração e relevência cada vez maior no Brasil e América Latina, construindo uma OBRA que inspira diferentes gerações e que deixará pegadas. Temos o DNA da liderança e não fugirei do compromisso assumido com os principais atores desse mercado, nossos atuais e futuros clientes, assim como cada membro de nosso time. No paralelo, assumi com entusiasmo a presidência da AIFB, acreditando que todas as empresas associadas, juntas, tem um poder inesgotável de transformação e contribuição para o crescimento de todo esse ecossistema.
No campo pessoal consegui atingir um equilíbrio dentro das minhas 168 horas da semana que pretendo nunca mais perder, onde a volta ao ciclismo também ocupa uma posição especial. Mas o maior projeto mesmo é a contínua formação dos meus 5 filhos, que são os herdeiros e cuidadores dos valores e da essência de minha família, eternizando o legado de contribuição que queremos deixar para o mundo.
Se tivesse um superpoder, qual seria?
Fazer com que as pessoas trocassem o egoísmo e dedicassem o melhor de si ao cuidado com os outros — pela liderança, pelo exemplo ou pela doação.
Qual foi o último livro que leu?
Humanismo Extremo, de Tom Peters. Uma lição de vida. Indispensável.
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Um livro e um filme que você indica para líderes.
São vários livros, entre eles Execution (Execução), de Ram Charan; Good to Great (Empresas feitas para vencer), de Jim Collins; e Rico de Verdade, de Roberto Tranjan. Já os filmes são Rei Arthur; Gladiador; Fomos Heróis (We Were Soldiers) — todos valem ser vistos mais de uma vez.
Uma frase ou conselho que leva para a vida?
“Jamais acredite em conselhos.”
Onde encontrá-lo
No LinkedIn: Paulo Akiau.
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